Realizou-se em Berlim
o V Forum Internacional sobre Migrações e Paz, promovido pela Rede
Internacional Scalabriniana de Migrações (‘Scalabrini International Migration
Network - Sims) e pela Fundação Konrad Adenauer, com o objetivo de estimular um
diálogo de alto nível sobre o tema e definir ações concretas diante das
diferentes conexões entre fluxos migratórios e pacífica coexistência de quem
acolhe os migrantes. A derrubada das barreiras físicas entre os povos e as definições
de políticas voltadas para a integração dos migrantes nos contextos locais,
segundo perspectivas democráticas e interculturais, foram temas comuns nos
pronunciamentos. Entre os participantes estava o Núncio Apostólico junto às
Nações Unidas de Genebra, Dom Silvano Maria Tomasi, que no seu pronunciamento e
no debate evidenciou o tema da integração unido à tutela dos direitos humanos
fundamentais da humanidade na migração. Ele foi entrevistado pela Rádio
Vaticano:
Dom Tomasi:
“Diante da contradição, que de um lado a Europa tem necessidade de
imigrantes por razões demográficas, econômicas e políticas e por outro, que
existe uma cultura populista que tende a rejeitar esta presença, o fórum coloca
a prioridade dos direitos humanos como ponto de partida para criar comunhão,
para criar um sentido de mútua pertença e de solidariedade. Então, o problema
se coloca de maneira muito diferente: ao invés de partir em função da economia,
nos colocamos em função da pessoa, do emigrado, que é igual em dignidade e direitos
fundamentais a todos. De fato, existe a tendência de acentuar sempre mais o
valor dos direitos humanos como instrumento de integração, de eficácia da
presença dos estrangeiros, dos emigrados também do ponto de vista econômico e,
desta maneira, criar aquele sentido de família humana única que é mais
importante que as fronteiras das tradições culturais em que vivemos”.
RV:
Em dezembro de 1990 foi assinada a Convenção ONU sobre a proteção dos direitos
de todos os trabalhadores migrantes e de suas famílias. O que falta ainda para
a sua plena execução?
Dom Tomasi:
“A dificuldade é que os grandes países de imigração – Estados Unidos,
Alemanha, França, Itália – não ratificaram a Convenção das Nações Unidas. É
este o ponto fraco. A estrutura internacional não faltou, mas alguns países -
por medo das consequencias humanas que poderiam resultar da aplicação desta
convenção – que protege os trabalhadores e as suas famílias – tenham que pagar
preços muito altos. Isto não é verdade, mas assim como a pressão populista de
certos segmentos do eleitorado leva para esta direção, a política está muito
mais atenta a não seguir nesta direção”.
RV:
Neste fórum é ressaltada a necessidade de mudar perspectiva em relação aos
migrantes. Na sua opinião, qual é o ponto de vista a ser adotado?
Dom Tomasi:
“Devemos analisar o fenômeno das migrações do ponto de vista das vítimas,
porque se não entendemos as motivações que causam e que motivam tantas pessoas
a arriscar a vida para salvaguardar a própria dignidade ou para sobreviver, não
conseguiremos entender o verdadeiro alcance deste fenômeno. Existem dezenas de
milhares de mortos, vítimas mesmo do esforço de atravessar o Mar Vermelho ao
Iêmen ou do Haiti à Flórida, do México ao Deserto do Arizona em direção aos
Estados Unidos, ou mesmo do Deserto do Sinai para escapar em direção aos países
africanos. Vemos que, antes de morrer de fome ou cair vítima de violências
locais, estas pessoas arriscam um caminho, uma viagem, muito perigosa que para
muitos deles acaba na tragédia mais absoluta, a da morte violenta. A
sensibilidade internacional se comove diante de alguns destes acontecimentos –
como o naufrágio de alguns destes barcos que atravessam o Mediterrâneo -, mas
depois não segue em prática com um projeto coordenado de leis que tornem realmente
eficaz uma solução como aquela de alargar os canais legítimos legais da
emigração, de facilitar a reunião das famílias, de buscar a regularização de
milhares de pessoas que trabalham, vivem e de fato fazem parte da sociedade
européia ou americana, mesmo que não sejam documentadas de um ponto de vista da
cidadania e da permanência legal no país. São estas as medidas que devemos
encorajar. Não são medidas fáceis a serem perseguidas, mas é este o caminho
mestre que a experiência mostra como válido; não é um ímã para atrair novos
emigrados, mas é uma regularização que beneficia a sociedade em que estas
pessoas vivem e trabalham e sobretudo, estes indivíduos, estas pessoas que se
beneficiam do fato de que não vivem mais este medo ou arriscam ser vítimas da
maldade e do tráfico de pessoas”. (JE)
Fonte: www.news.va
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