Cidade
do Vaticano (RV) – A Sala de Imprensa da Santa Sé
divulgou esta sexta-feira (11/07) a Mensagem para o Dia Mundial do Turismo, que
será celebrado em 27 de setembro.
O
título da Mensagem é “Turismo e desenvolvimento comunitário”, assinada pelo
Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para Migrantes e Itinerantes,
Card. Antonio Maria Vegliò e pelo Secretário, Dom Joseph Kalathiparambil.
No
texto, a atenção é focalizada na comunidade local, anfitriã das metas
turísticas. "É essencial que os benefícios econômicos do turismo cheguem a
todos os setores da sociedade local com um impacto direto sobre as famílias e,
ao mesmo tempo, é necessário valer-se ao máximo nível dos recursos humanos
locais. (…) Ninguém pode construir a própria prosperidade em detrimento do
próximo."
A
Santa Sé recorda que um destino turístico não é somente uma paisagem bonita ou
uma infraestrutura confortável, mas antes de tudo uma comunidade local, com o
seu contexto físico e a sua cultura.
“É
necessário promover um turismo que se desenvolva em harmonia com a comunidade
receptora, com o meio ambiente, com as suas formas tradicionais e culturais,
com o seu patrimônio e com os seus estilos de vida. E, neste encontro
respeitoso, a população local e os visitantes podem instaurar um diálogo
produtivo que encoraje a tolerância, o respeito e a compreensão recíproca.”
Para
o Pontifício Conselho, cada lugar do planeta tornou-se uma meta potencial. Por
isso, o setor turístico manifesta-se como uma das opções mais viáveis e
sustentáveis para reduzir o nível de pobreza das áreas mais subdesenvolvidas.
“Se for promovido de maneira adequada, ele pode ser um inestimável instrumento
de progresso, de criação de lugares de trabalho, de desenvolvimento de
infraestruturas e de crescimento econômico.”
Neste
contexto, a Igreja reconheceu as potencialidades do setor turístico e pôs em
prática projetos simples, mas eficazes.
De
fato, são cada vez mais numerosas as associações cristãs que organizam viagens
de turismo responsável a regiões desfavorecidas, assim como aquelas que
promovem o chamado “turismo solidário ou de voluntariado”, durante o qual as
pessoas aproveitam o tempo das férias para colaborar em determinados projetos
de cooperação em países menos desenvolvidos. Desenvolve-se a “pastoral da
amabilidade”, que permite acolher com espírito de abertura e de fraternidade,
mostrando o rosto de uma comunidade viva e hospitaleira.
Estas
propostas pastorais, lê-se ainda na mensagem para o Dia Mundial do Turismo, são
cada vez mais significativas, particularmente num período em que aumenta um
tipo de “turista vivencial”, que procura instaurar vínculos com a população
local e deseja sentir-se membro da comunidade anfitriã, participando na sua
vida quotidiana, valorizando o encontro e o diálogo.
“Por
isso, consciente de que a sua missão primordial é a evangelização, a Igreja
quer oferecer a sua colaboração muitas vezes humilde, para responder às
situações concretas dos povos, de maneira especial dos mais necessitados."
Leia
a íntegra do texto:
“TURISMO
E DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO”
1.
A 27 de setembro, sobre o tema "Turismo e desenvolvimento
comunitário", celebrar-se-á o Dia Mundial do Turismo promovido, como
acontece todos os anos, pela Organização Mundial do Turismo (OMT). Consciente
da importância social e econômica do turismo no momento atual, a Santa Sé quer
acompanhar este fenômeno a partir do âmbito que lhe é próprio, de maneira
particular no contexto da evangelização.
No
seu Código Ético Mundial, a OMT afirma que o turismo deve ser uma atividade
benéfica para as comunidades de destino: "As populações locais serão
partícipes das atividades turísticas e compartilharão de modo equitativo os
seus benefícios econômicos, sociais e culturais, em particular no que diz
respeito à criação direta e indireta de emprego".1 Isto quer dizer que
é necessário instaurar entre estas duas realidades uma relação de
reciprocidade, que leve a um enriquecimento mútuo.
A
noção de "desenvolvimento comunitário" está profundamente vinculada a
um conceito mais amplo, que faz parte da doutrina social da Igreja, ou seja, o
de "desenvolvimento humano integral", a partir do qual queremos ler e
interpretar o primeiro. A este propósito, são iluminadoras as palavras do Papa
Paulo VI que, na encíclica Populorum progressio, afirmava: "O
desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser
desenvolvimento autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os
homens e o homem todo".2
Como
pode o turismo contribuir para este desenvolvimento? Para tal finalidade, o
desenvolvimento humano integral e, por conseguinte, o desenvolvimento comunitário
no campo do turismo devem ter em vista alcançar um progresso equilibrado, que
seja sustentável e respeitoso em três âmbitos: econômico, social e ambiental,
entendendo com isto tanto o âmbito ecológico como o contexto cultural.
2.
O turismo é um motor fundamental de desenvolvimento econômico, em virtude da
sua importante contribuição para o PIB (de 3% a 5% a nível mundial), para o
emprego (de 7% a 8% dos lugares de trabalho) e para as exportações (30% das
exportações mundiais de serviços).3
No
momento presente, em que se observa uma diversificação dos destinos, cada lugar
do planeta torna-se uma meta potencial. Por isso, o setor turístico
manifesta-se como uma das opções mais viáveis e sustentáveis para reduzir o
nível de pobreza das áreas mais subdesenvolvidas. Se for promovido de maneira
adequada, ele pode ser um inestimável instrumento de progresso, de criação de
lugares de trabalho, de desenvolvimento de infraestruturas e de crescimento
econômico.
Estamos
conscientes de que, como afirmou o Papa Francisco, "a dignidade do
homem está relacionada com o trabalho" e que, por conseguinte, se nos
pede que enfrentemos o problema do desemprego com "os instrumentos da
criatividade e da solidariedade".4 Nesta linha, o turismo
manifesta-se como um dos setores com maiores capacidades de gerar um tipo de
emprego "criativo" e diversificado, do qual podem beneficiar com
maior facilidade os grupos mais desfavorecidos, dos quais fazem parte as
mulheres, os jovens e algumas minorias étnicas.
É
essencial que os benefícios econômicos do turismo cheguem a todos os setores da
sociedade local com um impacto direto sobre as famílias e, ao mesmo tempo, é
necessário valer-se ao máximo nível dos recursos humanos locais. É, outrossim,
fundamental que para alcançar estes benefícios se sigam critérios éticos
respeitadores sobretudo das pessoas, tanto no plano comunitário como a nível de
cada indivíduo, evitando "um conceito economicista da sociedade, que
procura o lucro egoísta, fora dos parâmetros da justiça social".5
Com efeito, ninguém pode construir a própria prosperidade em detrimento do
próximo.6
Os
benefícios de um turismo a favor do "desenvolvimento comunitário" não
podem ser reduzidos exclusivamente ao aspecto econômico, mas têm também outras
dimensões de igual ou até maior importância. Entre elas contam-se o
enriquecimento cultural, a oportunidade de encontros humanos, a construção de
"bens relacionais", a promoção do respeito recíproco e da tolerância,
a colaboração entre entidades públicas e particulares, o fortalecimento do
tecido social e associativo, a melhoria das condições sociais da comunidade, o
estímulo para um desenvolvimento econômico e social sustentável e a promoção da
formação de trabalho dos jovens, para citar apenas algumas.
3.
O desenvolvimento turístico exige que o protagonista principal seja a
comunidade local, que o deve fazer seu, com a participação concreta de
parceiros sociais, institucionais e civis. É importante criar oportunas
estruturas de participação e coordenação, favorecendo o diálogo, assumindo
compromissos, integrando esforços e determinando finalidades comuns e soluções
consensuais. Não se trata de fazer algo "pela" comunidade, mas sim
"com" a comunidade.
Além
disso, um destino turístico não é somente uma paisagem bonita ou uma
infraestrutura confortável, mas antes de tudo uma comunidade local, com o seu
contexto físico e a sua cultura. É necessário promover um turismo que se
desenvolva em harmonia com a comunidade receptora, com o meio ambiente, com as
suas formas tradicionais e culturais, com o seu patrimônio e com os seus
estilos de vida. E, neste encontro respeitoso, a população local e os
visitantes podem instaurar um diálogo produtivo que encoraje a tolerância, o
respeito e a compreensão recíproca.
De
resto, a comunidade local deve sentir-se chamada a salvaguardar o seu próprio
patrimônio natural e cultural, conhecendo-o, sentindo-se orgulhosa do mesmo,
respeitando-o e voltando a valorizá-lo, de modo a poder compartilhá-lo com os
turistas e transmiti-lo às gerações vindouras.
Enfim,
também os cristãos do lugar devem ser capazes de manifestar a sua arte, as suas
tradições, a sua história, os seus valores morais e espirituais, mas
principalmente a sua fé, que se encontra na origem de tudo isto e que lhe
confere sentido.
4.
Ao longo deste caminho rumo a um desenvolvimento integral e comunitário a
Igreja, perita em humanidade, deseja contribuir oferecendo a sua visão cristã
de desenvolvimento, propondo "o que ela possui como próprio: uma visão
global do homem e da humanidade".7
A
partir da nossa fé, podemos oferecer o sentido de pessoa, o sentido de
comunidade e de fraternidade, de solidariedade, de busca da justiça, de saber
que somos guardiões (e não proprietários) da criação e, sob a ação do Espírito
Santo, prosseguir a colaboração com a obra de Cristo.
Dando
continuidade àquilo que o Papa Bento XVI pedia a quantos trabalham na pastoral
do turismo, devemos aumentar os nossos esforços, com a finalidade de "iluminar
este fenômeno com a doutrina social da Igreja, promovendo uma cultura do
turismo ético e responsável, de tal modo que chegue a ser respeitador da
dignidade das pessoas e dos povos, acessível a todos, justo, sustentável e
ecológico".8
É
com alegria especial que vemos como em várias partes do mundo a Igreja
reconheceu as potencialidades do setor turístico e pôs em prática projetos
simples mas eficazes.
São
cada vez mais numerosas as associações cristãs que organizam viagens de turismo
responsável a regiões desfavorecidas, assim como aquelas que promovem o chamado
"turismo solidário ou de voluntariado", durante o qual as pessoas
aproveitam o tempo das férias para colaborar em determinados projetos de
cooperação em países menos desenvolvidos.
Além
disso, são dignos de ser mencionados os programas de turismo sustentável e
solidário, promovidos por conferências episcopais, dioceses ou congregações
religiosas em regiões desfavorecidas, que acompanham as comunidades locais,
ajudando-as a criar espaços de reflexão, promovendo a formação e a
autodeterminação, aconselhando e colaborando para a redação de projetos e
promovendo o diálogo com as autoridades e com outros grupos. Isto levou à
criação de uma oferta turística gerida pelas comunidades locais, através de
associações e microempresas dedicadas ao turismo (alojamento, restaurantes,
guias, produção artesanal, etc.).
E
são numerosas as paróquias das regiões turísticas que recebem o visitante
oferecendo propostas litúrgicas, formativas e culturais, com o desejo de que as
férias "sejam proveitosas para o seu crescimento humano e espiritual,
persuadidos de que nem sequer neste período podemos esquecer-nos de Deus, que
jamais se esquece de nós"9. Por conseguinte, elas procuram
desenvolver uma "pastoral da amabilidade" que permite acolher com
espírito de abertura e de fraternidade, mostrando o rosto de uma comunidade
viva e hospitaleira. E a fim de que a hospitalidade seja mais eficaz, torna-se
necessária uma colaboração concreta com os demais setores implicados.
Estas
propostas pastorais são cada vez mais significativas, particularmente num
período em que aumenta um tipo de "turista vivencial", que procura
instaurar vínculos com a população local e deseja sentir-se membro da
comunidade anfitriã, participando na sua vida quotidiana, valorizando o
encontro e o diálogo.
Portanto,
a solicitude eclesial no âmbito do turismo concretizou-se em numerosos
projetos, derivados de experiências muito diversificadas surgidas a partir do
esforço, do entusiasmo e da criatividade de muitos sacerdotes, religiosos e
leigos que, deste modo, desejam colaborar para o desenvolvimento socioeconômico,
cultural e espiritual da comunidade local, ajudando-a a olhar para o seu futuro
com esperança.
Por
isso, consciente de que a sua missão primordial é a evangelização, a Igreja
quer oferecer a sua colaboração muitas vezes humilde, para responder às
situações concretas dos povos, de maneira especial dos mais necessitados. E
fá-lo convicta de que "evangelizamos também procurando enfrentar os
diferentes desafios que se nos podem apresentar".10
Cidade
do Vaticano, 1 de julho de 2014.
Antonio
Maria Card. Vegliò
Presidente
+
Joseph Kalathiparambil
Secretário
Fonte:
www.news.va