Entrevista coletiva
concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após encontro com o
Papa Francisco:
Jornalista: Presidenta,
como é que foi a conversa?
Presidenta: Olha, a
conversa foi uma conversa muito interessante. A primeira coisa é que eu era a
primeira a ser recebida, depois da entronização. Inclusive o Papa falou “você
pode falar, porque é a primeira vez que eu estou recebendo alguém aqui”. Ele é
uma pessoa extremamente carismática e, ao mesmo tempo, com um grande
compromisso com os pobres, o que torna a relação com o Brasil uma relação muito
importante para nós porque o governo brasileiro vem nos últimos 10 anos, a
partir do Lula, focando a questão da superação da pobreza. E é uma política de
Estado, eu inclusive, expliquei para ele como é que nós estamos, e ele conhecia
bastante bem, não houve nenhuma surpresa da parte dele, ele sabia o que nós
estávamos fazendo.
Jornalista: Sobre a
Jornada, vocês conversaram?
Presidenta: Ele também
falou bastante sobre a importância de proteção às populações mais fragilizadas.
Uma coisa que para mim foi muito interessante, ele falou que teve um papeleiro,
vestido de papeleiro. Papeleiro é o nosso catador de papel. Ele trabalhava com
o papeleiro e teve um papeleiro aqui no dia da entronização representando os
papeleiros argentinos e eu falei para ele que nós geralmente fazemos – como
vocês sabem – o nosso Natal, nós fazemos uma missa sempre na época do Natal com
os papeleiros. E essa questão das populações mais fragilizadas ele também falou
bastante sobre isso. No que se refere à nossa Jornada Mundial da Juventude, a importância
da juventude na construção do futuro da humanidade, e a Igreja como uma
instituição secular tem no jovem um foco muito grande e ele estava me dizendo
que ele espera uma presença grande dos jovens na medida em que ele é o primeiro
Papa, ele é várias coisas primeiro: ele é o primeiro Francisco, o primeiro
jesuíta, o primeiro latino-americano, o primeiro argentino, e ele espera a
presença massiva de jovens.
Nós
conversamos … muito entusiasmado … nós conversamos sobre a questão dos jovens,
sobre essa questão das drogas, do crack, do reforço de valores, de princípios e
de símbolos para a juventude. E ele também – e isso é muito interessante – ele
me disse que ele vai comparecer a Aparecida, ele vai, logo depois da grande
participação dele ir em Aparecida e até me lembrou que em 2007 ele esteve em
Aparecida e me deu, inclusive, um livro que é a síntese do que eles fizeram em
Aparecida em 2007, que foi uma conferência de bispos latino-americanos. E me
disse assim: “Você não lê tudo, porque você pode se aborrecer. Então você pegue
o índice e olhe os assuntos que te interessar e vai lendo aos poucos”. Depois
também me deu um conselho. Me disse o seguinte: “Eu fiquei muito comovido com a
questão que ocorreu em Santa Maria e acho que a gente tem na vida de demonstrar
força e ternura. Em Santa Maria, o Brasil demonstrou força e ternura”. Eu
fiquei muito agradecida também e acho que ele será um Papa muito importante
para o momento em que todos nós vivemos.
Jornalista: Ele comentou
sobre a missão dele na Igreja, presidente?
Presidenta: Ele disse que
tinha que evitar o orgulho, o Papa é muito, eu diria assim, muito modesto. Ele
comentou que não se pode ter orgulho, nem pretensões, você tem que lutar para
fazer as coisas direito, e lembrar sempre que tem um peso nas costas.
Jornalista: Ele fez algum
pedido ao Brasil? Ele fez algum pedido para a senhora?
Presidenta: Olha, eu
tenho a impressão que ele, em vez de fazer um pedido, ele mais disse que estava
com o Brasil, que estava com a América Latina, a forma dele falar é mais nesse
sentido.
Jornalista: Ele se
dirigiu a senhora como você ou como senhora?
Presidenta: Olha, não dá
nem para lembrar direito, ele é um Papa muito normal, viu?
Jornalista: Ele [o Papa]
fala português bem?
Presidenta: Ele fala em
portunhol igual à gente. E ele entende português bem. E ele não tem tradução.
Jornalista: Presidenta, para
Argentina. Somos o país do Papa. O que dizer aos argentinos do encontro com o Papa
Francisco?
Presidenta: Olha, vocês
têm muita sorte. É um grande Papa. A Argentina está de parabéns. Agora a gente
sempre diz “o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro”.
Fonte: www2.planalto.gov.br
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