A POLUIÇÃO AMBIENTAL EM OURO PRETO É UM ASSUNTO SOBRE O QUAL MUITOS
PREFEREM NÃO FALAR PELOS MAIS VARIADOS MOTIVOS: COMODISMO, FALTA DE
RESPONSABILIDADE, MEDO, NÃO POSSO AFIRMAR COM CERTEZA.
AGORA, TÃO CERTO QUANTO O NASCER E O PÔR DO SOL É A NUVEM DE FUMAÇA QUE
SE ABATE SORRATEIRAMENTE TODOS OS DIAS NO INÍCIO DA NOITE SOBRE O CAMPUS DA
UFOP, PASSANDO PELA BAUXITA, VILA APARECIDA E CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE E QUE
MUITOS ACHAM QUE É UM "NEVOEIRO".
SUGIRO QUE APROVEITEMOS ESTE ESPAÇO PARA FALARMOS COM MAIS FREQUÊNCIA
SOBRE ESTE ASSUNTO QUE ATINGE A TODOS SEM DISTINÇÃO.
SOBRE O TEMA, REPRODUZO ABAIXO A DECLARAÇÃO CORAJOSA DO ARCEBISPO
METROPOLITANO DE MARIANA, DOM GERALDO LYRIO ROCHA:
Declaração da Arquidiocese de Mariana diante dos impactos da atividade
mineradora e industrial
O crescimento da atividade mineradora e industrial em grande parte da
região compreendida pela Arquidiocese de Mariana, com suas múltiplas
consequências, motiva a presente declaração, por ocasião da celebração do
Jubileu do Senhor Bom Jesus, na cidade de Congonhas. Como Pastor desta porção
do rebanho de Cristo, dirijo-me às autoridades, aos empresários e a todos os
cidadãos comprometidos com o bem comum, reafirmando, à luz dos princípios
éticos e cristãos, a posição da Igreja em defesa da vida, em favor da
preservação do meio ambiente e da conservação do nosso patrimônio histórico,
artístico, cultural e religioso.
Mesmo reconhecendo o progresso, impulsionado em grande parte pelo avanço
científico e tecnológico, que gera emprego, renda e recursos econômicos e
financeiros, não podemos desconhecer o risco dos impactos causados à qualidade
de vida de nosso povo, ao meio ambiente e à preservação de seu precioso
patrimônio. Tais impactos são, muitas vezes, ignorados em nome do
desenvolvimento econômico. Em sua encíclica Populorum Progressio, dizia o Papa
Paulo VI: “o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico e,
para ser autêntico, deve ser integral, isto é, deve promover o ser humano todo
e todos os seres humanos” (cf. PP 14).
O progresso, portanto, deve ser regulado não apenas pelas leis da
economia e do mercado, mas também por princípios éticos e morais que permitam
um desenvolvimento sustentável, com responsabilidade social. Toda atividade
mineradora e industrial deve ter como parâmetro o bem estar da pessoa humana,
buscando a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas
formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à
biodiversidade e ao uso responsável das riquezas naturais. É preciso empregar
todos os esforços para manter viva a natureza, preservar os mananciais e as
nascentes, garantir o habitat dos seres vivos e defender as espécies ameaçadas
de extinção. Com sabedoria ensina-nos o Papa João Paulo II: “A programação do
desenvolvimento econômico deve considerar atentamente a necessidade de
respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais
são limitados e alguns não são renováveis” (cf. SRS, n. 26). Além da defesa do
meio ambiente, é de fundamental importância que se garanta o respeito à vida
humana em todas as suas dimensões e em todas as suas fases, desde a concepção
até o seu término natural, e se promova a “ecologia humana”, conforme a
expressão do Papa João Paulo II.
Diante dos grandes investimentos econômicos que transformam várias
cidades desta Arquidiocese, os cidadãos, por meio de mecanismos de controle
social, como os conselhos municipais, têm direito a reivindicar melhorias
sociais e ambientais, a cobrar medidas eficazes que atendam às prioridades
defendidas pela comunidade, a exigir que os impostos sejam devidamente aplicados
em sua finalidade e a lutar por medidas que garantam o respeito à dignidade de
todos, com especial atenção aos trabalhadores e suas famílias. Preocupa-nos, de
modo particular, a situação das famílias forçadas a deixarem suas casas e suas
terras (às vezes sem receberem indenização justa) ou atraídas pela ilusão do
dinheiro da desapropriação. Para defender a vida, medidas urgentes precisam
também ser tomadas em relação às condições das rodovias e à segurança no
trânsito, especialmente nessa região.
A Igreja Católica é depositária e guardiã de enorme parte do patrimônio
histórico e artístico do Brasil, cuja preservação é responsabilidade de todos.
Na cidade de Congonhas, a Arquidiocese de Mariana é proprietária de importantes
obras reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, entre as
quais se incluem as capelas dos passos, as estátuas dos profetas, o Santuário
do Senhor Bom Jesus com seu entorno e a Praça dos Romeiros. A Igreja tem
consciência da importância histórica, artística e cultural desse acervo, e
reafirma que se trata, antes de tudo, de autêntico patrimônio religioso,
expressão de fé daqueles que edificaram esse lugar sagrado, espaço privilegiado
de manifestações da devoção e piedade de nosso povo e dos numerosos romeiros
vindos de tantas partes de Minas Gerais, de outros Estados e do exterior. A
utilização desse espaço não é incompatível com a atividade turística, desde que
sejam respeitadas suas finalidades originais e sua destinação religiosa. A
Arquidiocese de Mariana, atenta ao desenvolvimento dessa região, reafirma que a
atividade industrial e a exploração mineradora devem respeitar esses bens
culturais e contribuir para sua conveniente preservação.
Por intercessão de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais,
imploramos ao Senhor Bom Jesus que derrame suas bênçãos sobre todos nós e nos
ajude a promover a vida, a preservar o meio ambiente, a proteger o patrimônio
histórico, artístico, cultural e religioso de Congonhas e demais municípios
desta bela e rica região de nosso Estado, dom de Deus e obra da criação humana.
Congonhas, 14 de setembro de 2012
Jubileu do Senhor Bom Jesus
+Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo Metropolitano
14 setembro, 2012